A criação de grupos de WhatsApp e de Facebook para o compartilhamento de informações em diversas áreas tem se tornado cada vez mais comum. São grupos de moda, de vendas, de apoio a candidatos e da curtição de ídolos da música. A área médica, apesar da seriedade dos assuntos envolvidos, também não ficou fora desta nova forma de comunicação. Mas, o que muitos integrantes destes grupos ignoram é que ao buscar informações nas redes sociais sobre cirurgias e tratamentos podem estar se expondo a graves riscos.
O alerta é da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional Goiás (SBCP-GO) que tem se deparado com um grande número de grupos criados por pessoas leigas e, muitos deles, associados a médicos sem o conhecimento ou autorização destes profissionais. Nos grupos formados quase sempre por mulheres, pacientes que já se submeteram a cirurgias plásticas trocam informações e indicações de médicos, procedimentos e até medicamentos com pessoas que pretendem passar pela operação.
Com o compartilhamento de fotos supostamente tiradas antes e depois das cirurgias, administradoras e integrantes dos grupos, exibem o sucesso de suas operações, fazem “propaganda” de médicos e chegam a sugerir o “melhor” médico e procedimento para as interessadas em passar por uma plástica.
Sérgio Augusto da Conceição, presidente da SBCP-GO, explica que o que pode parecer uma inocente troca de informações entre essas mulheres, na verdade pode induzir a candidata a paciente à escolha inadequada do médico, da técnica e até na sequência do tratamento pré e pós-cirúrgico. Não é raro encontrar nos grupos “orientações” sobre medicação a ser tomada antes e após a operação, dicas de exercícios, de curativos e de repouso, tudo postado por pessoas leigas, cuja experiência pode não ser a mais indicada a quem tem acesso aos comentários.
“Somente o médico, após uma detalhada consulta e exames, pode dizer qual o melhor tratamento para cada paciente”, alerta o presidente da SBCP-GO, enfatizando que nem sempre o que é bom para uma pessoa, será para a outra. A norma vale também para os resultados exibidos em fotos. “O resultado alcançado por uma paciente poderá não ser atingido pela outra e escolher o médico confiando nestas fotos é um grande erro, além de ser constrangedor a exposição íntima das pacientes”, afirma.
A participação direta ou indireta de médicos nestes grupos fere a ética médica. Resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM) proíbem essa participação e também colocam sob suspeita a publicação de reiterados elogios a médicos em grupos de Facebook ou WhatsApp. De acordo com o CFM, os Conselhos Regionais de Medicina devem apurar a publicação de imagens do tipo “antes” e “depois” por não médicos, de modo reiterado e/ou sistemático, assim como elogios postados por pacientes e outras pessoas a técnicas e aos resultados de procedimentos associando-os à ação de um determinado médico. A comprovação de vínculo entre o autor das mensagens e o médico responsável pelo procedimento pode ser entendida como uma autopromoção e desrespeito à norma federal.
A criação de grupos de WhatsApp de um determinado médico também fere o sigilo profissional ao expor as pacientes. A SBCP-GO tem atuado para coibir o problema, monitorando as publicações por meio de sua Comissão de Mídias Sociais, orientando os cirurgiões plásticos e encaminhando denúncias de indícios de irregularidades ao Conselho de Medicina, órgão responsável por apurar e punir infrações ao Código de Ética Médica e também Depro, órgão da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica que avalia e fiscaliza possíveis desvios das regras de condutas éticas de cirurgiões plásticos especialistas .
“Em 2016, fizemos uma campanha educativa, com grande apoio da mídia, e agora voltamos a orientar as pessoas para que não busquem informações nestes grupos, pois não são fontes confiáveis. Ao escolher um médico, verifique se ele é especialista em cirurgia plástica, procure esclarecer suas dúvidas nas consultas presenciais e converse com outros pacientes, mas não se deixe enganar por publicações de pessoas (possíveis agenciadoras) que podem estar levando vantagens para promover determinado profissional”, orienta o presidente.